O Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho (Dessaude) elaborou duas pesquisas on-line. O objetivo é monitorar a saúde e as condições do ambiente de trabalho dos profissionais do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) e da Policlínica Piquet Carneiro (PPC). A iniciativa inédita faz parte das atividades desenvolvidas para o enfrentamento ao novo coronavírus e o combate à pandemia de Covid-19. Os resultados preliminares já permitem a tomada de decisões, para prevenir e promover a saúde a esses trabalhadores.

 

O estudo conta com participação e adesão cada vez mais crescente do público-alvo. Considerando as sugestões dos próprios profissionais das unidades de saúde da Uerj, o questionário sobre Vigilância em Saúde do Trabalhador ganhou uma nova versão, dez dias após seu lançamento, em 20 de março. Os dados das respostas coletadas até o fechamento desta matéria apresentam uma avaliação e considerações importantes.

 

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Dos participantes, 730 (84%) são do sexo feminino e 139 (16%) do masculino. Em relação ao vínculo, 541 são servidores, 98 residentes, 93 integrantes de projetos, 5 contratados ou terceirizados, e 8 se autodeclararam na condição de “outros”. Quando se trata da categoria profissional, 62,9% são profissionais de Enfermagem, seguidos por 6,7% médicos, 4,9% docentes, 3,8% administrativos, 3,7% fisioterapeutas, e 4,1% foram classificados como “outros”, contemplando demais funções: fonoaudiólogos, assistentes sociais, nutricionistas e psicólogos.

 

Ainda estão pendentes de classificação de vínculo e categoria mais 120 perfis. De todo modo, esse resultado vai ao encontro da expectativa observada em estudos com profissionais da área. Unidades de saúde hospitalar contam com equipes majoritariamente femininas e grande quantitativo de auxiliares, técnicos e enfermeiros, justificando o percentual elevado da categoria.

 

 

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A identificação de sintomas é uma estratégia de extrema importância, pois possibilita o mapeamento de áreas em curso de prováveis doenças, principalmente quando diante daquelas de interesse da saúde, por conta da dinâmica exponencial quanto ao crescimento de casos suspeitos e confirmados de Covid-19.

 

As principais manifestações relatadas foram dor de cabeça (25,8%), seguida de congestão nasal e/ou conjuntival (22,4%) e dor de garganta (18,3%). A tosse inferior a duas semanas vem logo depois, citada por 155 profissionais. Quando questionados sobre a realização do exame Swab, um dos testes de detecção do coronavírus (identifica o material genético do vírus em uma amostra de secreção nasal ou da garganta, coletada com uma espécie de cotonete), do total entrevistado, apenas 10% disseram ter realizado o exame, sendo 62 servidores da Universidade e 16 residentes.

 

 

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O monitoramento revela um dado importante: das 869 pessoas, 4,7% se queixaram de tosse por mais de duas semanas e, ao menos, 2,8% informaram já terem tratado tuberculose no passado. Em um cenário também epidêmico desta doença no estado e município do Rio de Janeiro, é preciso investigar mais profundamente a potencial possibilidade de casos reais dentro da unidade hospitalar.

 

No que diz respeito às vulnerabilidades, das doenças elencadas, ganham destaque a hipertensão arterial sistêmica, com 136 (15,6%) declarações; seguida pela asma brônquica, com 80; diabetes mellitus, 65; e zika, com 58 citações. A ocorrência de doenças cardíacas, bem como a de natureza reumatológicas, foram apontadas por 3,3% dos participantes. O câncer aparece também como uma importante vulnerabilidade, atingindo 2,3% dos profissionais. É importante ressaltar que uma mesma pessoa pode ter mais de uma vulnerabilidade associada.

 

Em relação ao gênero feminino, especificamente sobre as mulheres em idade fértil, o estudo mostra circunstâncias especiais para a saúde do binômio mãe-bebê. Das 682 trabalhadoras nessa condição, foram identificadas 14 lactantes e 4 gestantes. Outras seis tiveram dúvida quanto a uma provável gravidez.

 

As informações extraídas dos questionários, além de apresentar dados estatísticos, auxiliam na proposição de recomendações para prevenção da saúde e segurança dos trabalhadores e demais usuários das unidades. Como resultado, o Dessaude vem desenvolvendo ações junto às unidades assistenciais de saúde da Uerj, visando a minimizar o risco de transmissão de Covid-19.

 

Gradativamente, as unidades de saúde da Uerj estão retomando atividades suspensas no início da pandemia. O distanciamento social, higienização das mãos, identificação e afastamento precoce de sintomáticos respiratórios, contudo, são princípios mandatórios na redução do risco de transmissão, associados aos aspectos ambientais e de proteção individual. Outro ponto de interesse é a proteção dos trabalhadores idosos e com comorbidades, sendo recomendado nesses casos o trabalho home office.

 

 

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